A logística constitui elemento fundamental na elaboração das estratégias das organizações, podendo, inclusive, orientar a formulação de estratégias corporativas. Na decisão de terceirizar atividades logísticas, a empresa opta pela estratégia de redução para centrar-se nas suas competências essenciais. Mas, dada as características da função logística, transversal e complexa, os riscos de transferi-la a terceiros são significativos e o sucesso depende da forma como este processo é gerenciado, o que vêm provocando uma evolução nas formas da relação contratante-contratado.
Um alto grau de integração vertical dentro das organizações é uma prática cada vez menos comum. No que se referem às atividades logísticas, as observações de diversos autores mostram uma tendência crescente de outsourcing. Para Boysonet al. (1999), a terceirização de funções logísticas para companhias, conhecidas como prestadores de serviços logísticos (PSL), tem cada vez mais se tornado uma alternativa poderosa à firma verticalmente integrada.
A terceirização corresponde à adoção de uma estratégia corporativa de redução que consiste na transferência de parte de seu processo ou atividades a terceiros. Segundo dados da Gazeta Mercantil Região Sul (25/09/2002), no Brasil, a terceirização de serviços logísticos apresentava taxas de crescimento entre 20 e 25% ao ano, acima das médias anuais verificadas, atualmente, nos Estados Unidos. Além disso, é importante destacar a importância dos PSL na economia regional. De acordo com a Comissão Européia (European Commission, 2001) a partir do momento que os PSL provêem serviços para múltiplos clientes, estes desempenham um significativo e crescente papel na busca pela otimização de toda a rede logística.
O atual crescimento da indústria de serviços logísticos não pode ser visto como resultado de um simples aumento do número de empresas que transferem atividades para terceiros. O escopo e o tipo de relacionamento entre cliente e fornecedor de atividades também tem evoluído. E, este novo relacionamento tem tornado mais complexa a decisão, a seleção do terceiro, o processo de negociação, a transferência das atividades e o monitoramento da terceirização. É importante salientar que o próprio conceito dos PSL ou 3PL (Third-partylogistics) tem evoluído para destacar a necessidade da integração da gama de serviços oferecida. “Os 3PL desenvolvem atividades contratadas por um embarcador e provêem o gerenciamento de múltiplos serviços logísticos, de forma integrada” (European Commission, PROTRANS, 2001).
Por que terceirizar e quais atividades são objeto de terceirização?
Pode-se identificar na literatura, diversas razões apontadas como motores do processo deexternalização das atividades logísticas pelas empresas industriais e comerciais. Estas razões surgem da necessidade de mudança e podem ser identificadas como responsáveis por desencadear um processo de terceirização. Dentre estas, cita-se a necessidade de:
· maiores investimentos e novas competências para o desenvolvimento eficiente das atividades logísticas, ou mesmo, reconfiguração de sistemas logísticos existentes (DORNIER et al., 2000);
· redução de custos ou, pelo menos, transformar altos custos fixos em custos variáveis, e aumentar o nível de serviço oferecido aos clientes (RABINOVICH, 1999);
· se concentrar em suas atividades principais (SINK et LANGLEY, 1996);
· penetrar em novos mercados (RAO etYOUNG, 1994).
Em qualquer dos casos, a organização deve acreditar que a terceirização seja uma alternativa
viável para a obtenção de melhorias de seu sistema logístico ou adequação deste às atuais
demandas do mercado.
Como avaliar se a empresa deve terceirizar?
Definido que uma atividade pode ser terceirizada, o próximo passo é analisar se as vantagens superam os riscos, ou seja, se a relação benefício/custo é positiva. A teoria mais difundida neste domínio para explicar o porquê “comprar” ou, numa abordagem mais recente, ”fazer junto” ao invés de “fazer internamente” é a teoria dos custos de transação. Apresentada, em 1971, por Williamson, a teoria dos custos de transação corresponde a uma extensão dos trabalhos de Coase sobre a teoria da firma, que define custos de transação como aqueles custos de usar o mecanismo de preço, isto é, são os recursos gastos ao buscar o mercado para transferir um bem ou serviço de uma parte a outra. (COASE apud HEPWORTH, 1989).
Qual prestador de serviço é mais adequado?
A contratação tem características particulares, sobretudo para aquisição de serviços, visto o alto grau de incerteza em relação à qualidade do “produto” final e a definição dos recursos necessários para atingir as metas. Além disso, o maior grau de personalização e especificidade destes serviços torna mais complexa esta avaliação. Como há uma tendência de contratação de serviços logísticos integrados, com vistas a aumentar a eficiência dos sistemas logísticos, a contratação dos PSL constitui, atualmente, uma decisão arriscada. Assim, a utilização de um apropriado processo de seleção de PSL é importante como forma de reduzir os riscos.
A primeira etapa deve consistir na identificação das características e competências que devem satisfazer os PSL. Entre os fatores a serem levados em consideração, em geral, devem estar incluídos: compatibilidade de sistemas de informações disponível do PSL e da empresa contratante; referências de outros clientes, reputação da empresa; estabilidade/Saúde financeira da empresa; experiência de trabalho nos negócios, como tempo que atua no mercado; compatibilidade da cultura das empresas; facilidades de comunicação entre as empresas; localização e escopo geográfico e; preço dos serviços oferecidos.
Que prestadores de serviços logísticos a empresa deve considerar na sua análise?
Com a tendência de terceirizar “pacotes” de atividades logísticas ao invés de atividades únicas, a relação entre cliente e prestador de serviço também vem mudando. Com demandas por atividades personalizadas, a variedade de contratos é imensa. Enquanto as funções de distribuição tais como transporte, armazenagem e pagamento de fretes têm há muito tempo sido prestada por fornecedores externos, a compra de conjunto de serviços, gerenciada por profissionais externos é algo novo (SINK et al., 1996).
Trabalhos recentes avaliam, empiricamente, esta relação entre as atividades objetos de terceirização e, mostram que as empresas, por razões relacionadas à economia de escopo e de escala, terceirizam múltiplas atividades com um mesmo fornecedor. Uma pesquisa com 372 gerentes de logística revelou que alguns grupos de atividades tendem a ser subcontratados em conjunto (veja RABINOVICH et al., 1999).
Por outro lado, pesquisas realizadas por Sinket al. (1996) junto a um grupo de embarcadores, permitem constatar que o conceito de serviço completo, freqüentemente, cria certa incerteza e receio. Assim, os prestadores foram aconselhados a se concentrarem nas suas competências centrais e não tentar oferecer uma solução “one-stop.
Quais ferramentas de controle utilizar?
Com a definição do PSL, deve-se identificar ferramentas gerenciais a serem utilizadas na parceria a fim reduzir o hiato entre os objetivos almejados e os realmente alcançados.
Com o objetivo de auxiliar na administração da parceria, Fabbe-CostesetBrulhart (1999) propõem algumas vias de ação que podem auxiliar na limitação de riscos de insucesso, melhorando o desempenho das partes: as modalidades operacionais da gestão, os dispositivos de monitoramento e controle e; os princípios de condução estratégica como: previsão de mecanismos de hierarquia, construção de uma estrutura incitativa, previsão de reavaliação e, se for o caso, a saída. É fundamental a definição de indicadores de desempenho para facilitar a negociação e a avaliação do desempenho e, estes indicadores devem fazer parte do contrato.
O uso dos indicadores na área da logística ganha importância na medida em que se torna necessário medir e avaliar o desempenho de atividades logísticas terceirizadas. Franceschini (2004) também ressalta a importância da medição: “o contratante deve definir o padrão de serviço desejado, em consonância com o fornecedor por meio do “acordo do nível de serviço”, o chamado SLA (servicelevelagreement)”.
Como administrar a parceria?
Apesar das vantagens da terceirização, identifica-se uma grande preocupação com o relacionamento entre as partes depois de engajada a parceria (ARTMANN etMARTHA, 1997; HUTT et al., 2000; MOORE et CUNNINGHAN III, 1999; FABBE-COSTES et BRULHART, 1999; TATE, 1996). Depois de definido o “como fazer juntos”, seja pela implementação de comunicação e informação, seja pela formalização de procedimentos entre empresas, é necessário observar como realmente estas irão cooperar.
Como resultado do enorme número de fracassos na formação de parcerias ou alianças, os administradores tentam adotar uma abordagem mais construtivista e adaptável a cada caso, daí a difusão dos termos como confiança, comportamento cooperativo, engajamento, clima organizacional e cultura. O próprio envolvimento dos funcionários ainda na transição das atividades é de fundamental importância, porque na grande maioria dos casos, a transferência das atividades deve acontecer sem a interrupção dos serviços e o envolvimento dos funcionários é crucial para o sucesso deste processo.
Se a parceria tem sucesso, os mecanismos de controle e monitoramento devem ser continuamente ajustados. Mas, há fatores diversos que podem levar a empresa a reavaliar a decisão de terceirizar e, consequentemente, à reintegração das atividades logísticas.
Quando considerar a possibilidade de reintegrar as atividades?
A reintegração das atividades logísticas é comum, mas constitui uma decisão crucial para a empresa que mais uma vez modifica sua estratégia.
Para LiebetRandall (1999a), a razão mais citada, pelos contratantes, para o término dos contratos logísticos foi o mau desempenho dos prestadores de serviços logísticos. Lambert etal. (1999) destaca as expectativas não realistas. Em LiebetRandall (1999b), as razões citadas pelos prestadores de serviços também foram levantadas e incluem: fusão do cliente com outra companhia; fechamento do mercado servido; percepção do consumidor que a relação havia sido prejudicada; violação de um contrato de aliança; seguido pela intervenção do quadro de relações nacionais trabalhistas e insolvência do cliente.
Do ponto de vista da empresa que contrata os serviços se identifica um retorno às questões estratégicas, consideradas na primeira etapa do processo de terceirização. É importante ressaltar que nem todas as operações ou “pacotes” de operações têm o mesmo impacto para a estratégia das organizações. Deve-se voltar neste ponto a um novo diagnóstico da empresa, o que levará a uma reestruturação logística da organização.
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O quadro abaixo exibe o Processo Tipico de Terceirização de Atividades Logísticas:
Disponível em: http://www.sargas.com.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=41&Itemid=29
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O quadro abaixo exibe o Processo Tipico de Terceirização de Atividades Logísticas:
Disponível em: http://www.sargas.com.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=41&Itemid=29
O primeiro passo a ser dado na escolha de um operador logístico é a realização de estudos para identificar a empresa na cadeia de suprimentos na qual ela está inserida, desde os fornecedores até o cliente final, e do detalhamento de todas as atividades passíveis de terceirização.
ResponderExcluirFeito isto deve-se esclarecer se a organização está ou não preparada para a terceirização, ou seja, todo um trabalho de análise preliminar deve ser feito para que se conheça bem o ambiente interno bem como sua receptividade a esta mudança em sua estrutura.
O próximo passo, após a definição favorável à contratação de um operador logístico, será a definição detalhada das atividades que serão terceirizadas e do nível de serviço esperado, que deverá ser igual ou superior ao conseguido pela própria organização, tendo em vista que a qualidade jamais deve deixar de ser levada em conta.
Em seguida as informações do contratante devem ser preparadas, para que as empresas candidatas à contratação possam conhecer a organização bem como os materiais e produtos envolvidos no processo, e ainda quais atividades serão terceirizadas.
Além destas informações deve ser elaborado um questionário a ser respondido pelos operadores logísticos que irão participar do processo seletivo.
Karine Monteiro dos Santos Ribeiro.
Notei que na elaboração das estratégias das organizações é onde constitui o elemento fundamental da logística. É na tomada de decisão de terceirizar atividades logísticas a empresa opta pela estratégia de redução de custos para centrar-se nas suas competências essenciais. E a terceirização é um processo que resulte em uma nova configuração das relações entre contratado e contratante.
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ResponderExcluirAcrescentando o que já foi exposto, quero salientar que devido a grande demanda de contratação de serviços logísticos integrados, com intuito de aumentar a eficiência dos sistemas logísticos, os PSL vem crescendo de forma acelerada ultimamente. Isso dar-se pelo fato da necessidade das empresas se posicionarem estrategicamente diante dos concorrentes a fim de obter vantagens seja no custo, tempo, qualidade ou flexibilidade.
ResponderExcluirA sub-contratação de atividades logísticas a uma empresa externa representa uma grande oportunidade em alguns casos mas, representa também riscos em outros. A incerteza inerente na subcontratação, é de facto uma das maiores razões de existirem muito poucos contratos logísticos. No fundo, é sempre mais fácil manter o status quo mas, ignorar o potencial adjacente a um contrato logístico é talvez o caminho com mais riscos deles todos. Apenas um olhar mais experiente e uma análise profunda dos custos e benefícios podem ajudar uma empresa a reconhecer se a subcontratação é ou não uma alternativa melhor que a enfrentam atualmente (Robeson et al., 1994, p. 508).
ResponderExcluiré interessante que todos os processos decifrados sejam analisados de forma continua e precisa para que seja feito uma ótima escolha de PSL.
ResponderExcluirA estratégia de terceirização de transportes deve tratar da divisão de atribuições entre Prestadores de serviços logísticos por característica de operação, buscando a máxima utilização dos ativos e o balanceamento da rentabilidade entre as empresas contratadas.
ResponderExcluirO atual crescimento da indústria de serviços logísticos não pode ser visto como resultado de um simples aumento do número de empresas que transferem atividades para terceiros. O escopo e o tipo de relacionamento entre cliente e fornecedor de atividades também tem evoluído.
ResponderExcluirSobre a estrategia de terceirizar ou não , acredito que seja algo que possa ser feito de acordo com a atividade fim que vc desempenha. um exemplo seria a UNIT, que tem como atividade fim o ensino e por isso acaba terceirizando serviços como limpeza , jardinagem e material de informatica .
ResponderExcluirPara que assim possa dar uma maior atenção e cuidado aos serviços como ensino e desenvolvimento de novas tecnologias.
Danilo Rodrigues Chagas
Conforme foi conceituado em sala de aula, para que uma empresa prestadora de serviços logísticos possa ser classificada como Operador Logístico, a mesma deve, no mínimo, prestar simultaneamente serviços nas três atividades básicas seguintes:
ResponderExcluir• Controle de estoque
• Armazenagem
• Gestão de transportes
Em função da importância que vem sendo assumida pela logística empresarial com instrumento de competitividade, da crescente tendência a terceirização das atividades logísticas e do uso generalizado e indiscriminado que vem sendo feito da figura do operador logístico, no mercado de serviços logísticos, a ABML - Associação Brasileira de movimentação e logística desenvolveu o conceito de operador logístico . Dessa maneira, observa-se o conceito de Ballou aplicado pelo operador logístico portuário em que a logística é um conjunto de atividades funcionais que é repetido muitas vezes ao longo do canal de suprimentos através dos quais matérias-primas são convertidas em produtos acabados e o valor é adicionado aos olhos dos consumidores.
ResponderExcluirAna Paula
ResponderExcluirUm operador logístico, é também um fornecedor logístico, que busca atender com total eficácia as necessidades logísticas de seus clientes, seja através de transporte, armazenagem, estocagem ou até mesmo de informação. Isso se deve pela necessidade de criação de elos entre as empresas produtoras e seus prestadores de serviços logísticos.
Sobre as vantagens e desvantagens, existe uma controvérsia, pois há os que defendem que os operadores logísticos têm a capacidade de operar com menores custos e oferecer melhores serviços do que operações executadas internamente. Isto ocorre porque os operadores logísticos prestam serviços a diversos clientes e geram economias de escala que os permitem investir em ativos, serviços e capacitação gerencial e operacional. Além disso, por prestarem serviços a diferentes empresas em vários setores, são capazes de aprender através das experiências de seus clientes. Com relação às desvantagens, pode-se citar o risco de se perder importantes informações dos mercados e clientes, obtidas através do contato feito dia-a-dia com estes. Além disso, a falta de sintonia entre o contratante e o operador sobre os objetivos competitivos da empresa contratante, bem como a falta de capacidade do operador logístico de cumprir as metas combinadas com o contratante são alguns dos problemas observados. Finalmente, a dependência excessiva da empresa contratante por um operador logístico pode se apresentar como um fator de risco para esta empresa. Para reduzir esses problemas é preciso que as empresas sigam um procedimento analítico estruturado que permita decidir, de forma mais objetiva possível, sobre a conveniência de terceirizar e com quem terceirizar.
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